The Project Gutenberg EBook of Relaçam dedicada A Serenissima Senhora
Rainha da Gram Bretanha da Jornada que fes de Lixboa the Port-ts Mouth, by Sebastião da Fonseca

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Title: Relaçam dedicada A Serenissima Senhora Rainha da Gram Bretanha da Jornada que fes de Lixboa the Port-ts Mouth

Author: Sebastião da Fonseca

Release Date: October 27, 2006 [EBook #19641]

Language: Portuguese

Character set encoding: ISO-8859-1

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Relaçam
Dedicada A Serenissima Senhora
Rainha da gram
BRETANHA
Da
JORNADA
que fes de Lixboa the
POR-TS MOUTH
Pello P. Sebastiaõ da Fonseca Mestre, Cappellaõ, E Presidente
Em O Hospital Real de todos os Sanctos na Cidade de

LIXBOA.

LONDRES

Na Officina de F. Martin Fa. Allestry & Tho. Dicas.
Anno 1662.




A Serenissima Senhora Rainha da gran Bretanha
Dando lhe O Parabem da Chegada, e pedindo lhe Licença
para escrever a jornada.



A daruos o parabem
chega minha confiãça.
nem toda desuanecida
nem toda desconfiada.

Galas tras de muitas Cores
porem todas desmayadas
ou seja pelo que intenta
ou seja pelo que alcança

Lixboa a cor de ciume
e Londres a da Esperança
lhe da; porem certo he
que vos lhe eis de dar a gala

E jâ revestida toda
de vossa grandesa e fama
nam teme ser atrevida
menos ser vituperada.

Inda que tosca e groceira
con vox pura limpa e clara
entra a diser seu papel
e desta maneira falla.

Parabem vos dem ô Deusa
de quanto o Oceano banha
desde o nascente ao poente
desde Lixboa a Bretanha

Parabem vos dem senhora
destas christalinas aguas
que a esperaruos vem vestidas
de chamalote de prata

Parabem vos de tambem
quem tamb[~e] vos acompanha
esta naçam Portuguesa
poucos corpos muitas almas

Parabem vos dem os grandes
pequenos e toda a casta
porque a taõ casta bellesa
venham todos festejalla.

Parabem, vos dâ por mi
tambem minha confiança
por mi, como entereceiro
por si, como entereçada.

Perdoa ilhe, por quem sois
pois naceo na vossa patria,
e he de Lixboa, que ausente
estas ditas, chora e canta.

E se a caso dais Licença
pintarâ toda a jornada,
despedidas de Lixboa
e entradas da gran Bretanha.



DEDICATORIA A SERENISSIMA SENHORA
RAINHA DA GRAN BRETANHA



Serenissima senhora
a quem todo o mundo acclama
por bella Estrella do Norte
Lusido Sol da Bretanha.

Vos que depondo o socego
quisestes romper as aguas
por enxugar as dos olhos
que ha tanto a patria derrama

Se bem de teruos presente
hera a gloria e dita tanta,
que a presente ausencia chora
quem os futuros chorâua.

Vos que tanto â vossa conta
tomastes a nossa causa;
que se nam sentem as custas
vincendo vôs a demanda

Vos que pello bem comum
deixais o logro da patria
porque ella consiga ditas
posto que sinta as distancias

Ouui a vôx desta pena
que glorifica discanta
por ter ja Licença vossa
para pintar a jornada.

Se naõ chegar o pinsel
a pintar cousa taõ alta
em jornada taõ comprida
bem posso pintar de auguada

Que o colorido talvez
con as distancias desmaya
vâ de pintura senhora
e vosso amparo me valha



IORNADA DE LISBOA, TE PORTSMOUTH.



Aos vinte e tres de Abril
entre semana, e semana
h[~u] Domingo qu'entre todos,
se tem por dia de guarda

Depois daquella grandesa
de que todo o mundo pasma
em que o pouo fes extremos
e os grandes conta das galas

De tantos arcos triunfantes
as ruas todas ornadas
que tudo hera h[~u] Rocio
por donde a aurora passava

Passou dos arcos à ponte
que marauilhosa estava
bem me rio eu que o Rio
visse cousa mais galharda

Chegou toda a fidalguia
pondosse em vistosas alas
porque â Estrella do Norte
Seruissem todos de guardas

Viram todos a estrella
dessia o sol para as aguas
posse o sol; e apareceo,
mais h[~u]a estrella na barca

Fes Portugal marauilhas;
tudo amor perfeito causa,
e embarcando a primauera
deram os nauios salua

Os marinheiros sobidos
pellos velames exarcias
enchiam o ar de viuas
e os barretes de vayas

Ouue fogo como terra
de tiros e luminarias,
teue o ar suas quenturas
suas fogagens as aguas

Veyo Rompendo a menhan
e cuido que nam chegâra
se lhe nam dera licença
o sol que escondido estáua

Leuou ferro a Nao Real
(quero diser Capitania)
se he que pode leuar ferro
quem leua em si tanta prata

Levaram ancora todas
despediramsse de Almada
emquanto a alma do pouo
se despedio da sua alma

Fiseram as cortesias
a Pallacio, que chorâra
se a Capitania nam fora
cõ o pano tomar lhe as lagrimas

Foi largando as Velas todas
deixando naquellas prayas
Cantidade de suspiros
e grande numero de ancias

Em sancto Amaro ficou
porque estava bem lembrada
de que outra terça feira
a dera o sancto bem sancta.

Porquanto as terças do Ceo
herda Portugal nas Chagas
e nam pode ter ma sorte
quem ternos e quinas lança

Viramsse as Magestades
este dia; quem jurâra
que fosse Atlante h[~u] madeiro
de dous tam grandes Monarchas

A minha Nao que Roby
por preciosa se chama
por ser pedra quis ficar
junto à pedreira de Alcantra

Quis Vallersse de pedreiras
para ser da Capitania
a mais ualida de todas
por parte de uisinhança

Serrousse a noite e contando
todos, a festa passada
sonharam muitas grandesas
posto nam foram sonhadas

Mal tinha do primo sono
Limpo parte das pestanas
se bem no todo da noite
dormi so no quarto d'alva

Quando ouui (nam sey fe ouui)
sonhey (nam sey se sonhaua)
liras con cordas deuinas
Anjos con voses humanas

Fiquei absorto; porem
abrî parte da varanda
repremi todo o alento
por ser pequena a distancia

Estavam dous Bargantins
a bordo da Capitania
hum pella banda direita
outro pella outra banda

Encontrauansse os discantes
cõ o rustico das flautas
o tosco das sanfoninas
cõ o sonôro das arpas

Callandosse os Instromentos
h[~u]a vox branda e delgada
tam fina que parecia
que por Fee se deuisaua

Cantou a seguinte letra;
a Fee senhora uos canta
porque chora ha muito tempo
a dilaçam desta causa

Cantou outra vox sonôra
o seguinte; o bem haja
quem Charitativa a Fee
tanto estende tanto espalha

A outra vox que Esperou
por ser toda Esperança
disse a fim; a fe, que espera
vencer a Fee a demanda.

Bem no vltimo compaço
deste terno; a outra barca
tocando a dança do Porto
posto estaua sobre as aguas

Deu principio a que Cantasse
h[~u]a vox sentida e branda
que parece que se via
o mesmo que se escutaua

Disse assim; uerâ o mundo
nas partes da gran Bretanha
aquella que se nam uê
por toda a terra espalhada

Cantou logo outro quarteto
outra vox, que por ser alta
pudera correr parelhas
con a trompeta da fama

E disse desta maneira
(sonôra liquida e clara)
quem entra pello ouuir
nunca de teus Reinos saya

Cantou logo a vox terceira
pondo as terceiras tam altas,
que deixou sem corda alg[~u]a
as Violetas que tocaua

Mestra hera entre todas
porem mal afortunada
quiça por ser da Capella
melhor flor; ou melhor falla

Cantou o quarto sentido
mas porem tanto gostava
do que cantou, que nam pude
ouuir lhe a menor palaura

O quinto fes hum discante
porem nam quis Cantar nada
e tocando h[~u]a ala uella
foramsse em modo de dança

Fiquey do que ouui suspenço
despertey os camaradas
que nam seram testemunhas
por ser suspeitos na causa

Muito foi, sendo potencias
o nam ouuillas uiva alma
mas dormiram, porque disem
durma quem tem boa fama

Muito foi, sendo sentidos
nam nos sentir h[~u]a armada
mas so quem teue pedreiras
pode alcançar ditas tantas

Sahio o dia bem cedo
porque bem de madrugada
vinha ver qual dos dous soes
o tal dia gouernaua

A tempo que os marinheiros
hiam colhendo as amarras
disendo na sua lingua
uento em poupa, mar bonança

E largando a Nao Real
deu à vella toda a armada
saluando a Nao que a Bellem
trouxe o pam que a tantos salua.

A torre nos fes conuite
con doce que chamam balla
e por ser menhan, nos deu
salua, sem pucaro de agua

Ouue tiros como area
e hera a fumaça tanta
que areava; tanto asim
que areou a mesma praya

Neste mesmo tempo a torre
que inda que velha se chama
nam deixa de ter seus fumos
inda depois de enterrada

Fes suas peças, e tanto
que a de Belem, asustada
cuidando ardia: foj logo
valler lhe por sima da agua

Se nam fora Caparica
que por vesinha chegada
lhe deu fumo do murraõ
e desseo a acompanhalla

Senam con ballas de fogo
talves con tiros de lagrimas
tanto asim, que a capa rica
que trouxe, leuou molhada

Fomos rompendo o Christal
do Tejo; o quem pintâra
as despedidas dos montes
e as saudades das aguas

Acompanharam nos sempre
barquinhas, botes, fragatas
que isto de levar barquinha
he aliuio das jornadas

Tomamos de h[~u]a Pilloto
somente por ser usança
que os ardilosos Ingleses
tem a barra decorada

Depois de passar as Torres
entramos pella anciada
de sam Iuseph donde as ueses
fomos alguns camaradas

A ver entrar Naos Inglesas
a ver sahir Naos de Olanda
a uer hir Naos para a India
e a uer dar fundo as armadas

Lembroume o passado tempo
e deste agora a mudança;
Mas tudo fas por melhor
quem estas mudanças traça

Chegamos a sam Giam
longe alg[~u] tanto da Patria
que inda que fraca Lisboa
pôde lançar longe a barra

Tanto hera o fogo na Torre
que cuidando se queimaua
(sem ter auiso do Ceo)
fogio de lob toda a armada

A outra Torre de fronte
tanto estoutra a remedaua
que parecia Bogio
que con Cachopos brincaua

Logo auistamos Cascaes
imperio de mil Monarchas
que por Pentecoste, deixam
o exercicio das barcas

A Guîa fomos deixando
por serem os todos Aguias
no uoar con tanto Norte
que assas foj pesada graça

Alongamonos da Roca;
esse ella fora de Cana,
acharamos o Canal
sem ser na Costa de França

O vento nos desuiou
de terra; con força tanta
que cõ os mares fiseraõ
seu dever as enjoadas

Naõ se uio mais terra alg[~u]a,
viasse so Ceo, e agua,
h[~u] que pedia o Eu
outro que pedia O âtra

Heraõ tudo inglesias
gut mora de madrugada,
gut naite â noite, e a biar
suprindo na falta da agua

Fomos con contrarios ventos
oito dias; e a jornada
se perdia, porque o Norte
cortês nos acompanhava

Auistamos hum Navio
que vinha da gran Bretanha
para as partes do Oriente
e o vio, vendo a Capitania

Ao bater as bandeiras
posse â trinca, ou â capa
disparando toda a peça
de huã bauda e outra banda

Mas como as Magestades
ja mais estaõ obrigadas
a agradecer cortesias
respondeo a Almiranta

Foy hum dos dias alegres
que tiuemos na jornada
mas ausentandosse o vento
posnos tres dias em calma

Sahiraõ os Bargantins
visitousse a Capitania
e os clarins dauaõ tangendo
noticias da bonança

Ouue brindes nos navios
tantos; que ao hir para a cama
ouue gente que cahio
sete veses, sem ser sancta,

Soprou ao outro dia
viração do mar, mas branda
e nos pos em breves horas
junto á costa de Biscaya

Continuou con mais força
este vento; e na semana
vespera das Ladainhas,
mediosse o canal a braças

Os abraços foraõ muitos
as cantigas, as guitarras
os jogos, os antremeses
as mascarilhas, e as danças

E o terço, que cada dia
na nossa Nao se resava
tres veses se duplicou
tendo no fin sua salva

Tantum ergo sacramentum
con devaçaõ se cantaua
porque a nossa Nao trasia
muita gente de ordens sacras

Ao outro dia vimos
muitas Naos, e toda a Armada
foj para reconhecellas
conheceram ser de Olanda

A minha por mais ligeira
quis ser a mais empenhada
e largando o pano todo
deu a toda Olanda caça

H[~u]a peça lhe atirou
porem nam lhe deu a balla
que se lhe dera o pilouro
fora ureador na camara

Recolheu todas as vellas
e apagou a confiança
porque ficou temerosa
uendo estoutra temeraria

Trouxe todas prisioneiras
â Nao real; que bem paga
do esferço do Capitão
fes mesuras (digo) arfaua

Seguiraõnos prisioneiras;
porem fes o dia pausa,
e nos fomos como sempre
entrar con o terço de guarda

Pouco se dormio a noite
porque rodaraõ as camas
con os mares; e por força
se jugaraõ, as canastras

Entre estas descompusturas
que o t[~e]po imperfeito causa
se uiraõ de notta negra
figuras de notta branca

E por ser historia breue
quero que estejais na maxima,
ouue gallo que cantou
sem que se negasse a causa

A estes gritos e voses
acordou a madrugada
dando da terra noticias
posto que do Ceo chegaua

Os marinheiros gritando
vieraõ bater na camara,
eu chamey por sancto Antonio
tremendo como h[~u]as varas

Porque h[~u] desia orirù,
outro gut chimê, e tanta
arenga sem se entender
fas perder a confiança

Entendi que nos pediaõ;
e pedir de madrugada
inda que sejaõ aluisaras
ninguem lhe fes boa cara

Pusme em pè e disse, amigos
leuantar todos da cama
que temos terra por proa
nam poupemos dita tanta

Fomos para sima e vimos
huã distancia nevada
que só a tinhaõ por terra
os que a tinhaõ por patria

Porem ao meyo dia
a uimos destinta, e clara
muitos montes, muitas torres,
muitas terras, muitas casas.

Mandousse huã Nao de auiso
a Plemut, que sendo Infanta
(ou Princesa) nam he muito
que fosse a mais auisada

Lançamos de tarde ferro
e vimos vir para a Armada
hum barco de pescadores
gente san, rustica, e branda

Vinham providos de peixe
sardas, lagostas, e cabras
marisco, de que se fes
huã cea regalada

Ouue em terra a noite toda
fogos em tanta abundancia
que obrigou a que os Nauios
fossem pondo luminarias

Muito foguete do ar
lançou a nossa Almiranta
que por serem de Lixboa
dessiam cheyos de lagrimas

As fortallesas da terra
atiraram; na anciada
tudo hera fogo e estrondo
tudo trompetas bastardas

Mandousse buscar refresco
a terra; de madrugada
e trouxesse muito pam
ouos, gallinhas, e caça

Muitas flores differentes
marauilhas, goiuos, salua,
alecrin, crauos, tomilho
pombos, vitellas, e auguada

Tudo nos foi nesseçario
porque tres dias sobre ancora
estiuemos; por o vento
ser contra a nossa jornada

Apesar do fero Norte
fomos na volta de França
que todos lançamos voltas
pelas exequias da calma

Chegou dia da Asençam
e teve a Capitania
o Sñor exposto á hora
sermam e missa cantada

Aparecerão Nauios
e a tarde foy festejada
porque dançando alavella
tocauaõ clarins as vaccas

Hiaõ para Portugal
escreueosse muita carta
deusse noticias do tempo
das borrascas, das bonanças

Relataraõsse os suspiros
deusse noticias das ancias.
que sempre ouue sentimentos
em ausencias dillatadas

Despediosse a Nao de todas
veyo a noite embuçada
e atras da noite a menhan
pella maõ do quarto da lua

Andousse pouco este dia
e por naõ ter circumstancias
passemos, que naõ há hom[~e]
quando ha taõ roins cartas.

Dia de saõ Bernardino
fomos para a Capitania
donde comungamos todos
gente reconciliada

Jantamos con tal grandesa
pratos de yguarias tantas
que bem mostrou os affectos
quem sabe roubar as almas

Cantousse de tarde tonos
para aliuiar a causa
de h[~u]a febre, que importuna
a Magestade ocupava

Ao vir para o Nauio
(depois de estarmos em calma)
veyo huã neuoa taõ grande
que mal se uiaõ as aguas

A disparar muitos tiros
começou a Capitania,
a tocar clarins na poupa
e na proa a tocar caxas

Os mais Navios tambem
seguiraõ a mesma traça,
e con ser longe da roca
confuso qualquer se estaua

Hia crecendo o estrondo
o rolar do mar soaua
vinhasse serrando a noite
e abrindo a desconfiança

A terra hiaõ sondando
as voadoras fumaças
que por fogir ao perigo
he licita toda a traça.

Fomos resar ladainha
terço con preces, e salua,
e a Magestade tambem
devinamente entoava

Cantaraõsse vilhancicos
preparousse a conçoada
que por ser Regia a grãdesa
quis dispensar nella o papa

Coubenos por aposento
a mais magestosa casa
por ver a gente Londrina
o que o Sacerdosio alcança

Ao romper da menhan
rompeosse a tella de prata
e foj medida con os remos
por ser alta para as varas

Chegamos â Nao Ruby
que como nos esperaua
(sentida de tanta ausencia)
teue votos de Esmeralda

De tarde chegou o Duque
de York, em duas fragatas
que deixou a h[~u]a vista
por ser muchissima a calma

Em h[~u] Bargantin real
todo cheyo de vidraças
veyo topando os Navios
the parar na Capitania

Os remeiros de uermelho
muita pluma, muita prata
e por naõ ter baxa alg[~u]a
mandou diante embaixada

Abateu logo a bandeira
a Nao real; por ser tanta
a magestade do Duque
que aos abatidos levanta

Da Capitania sahiraõ
a recebello; e as aguas
saltando con alegria
fasiaõ trauessas danças

Entrou o Duque bisarro
levantou a Capitania
a bandeira; mas de sorte
que naõ ficou muito cara

Depois que fes a vesita
ha emferma da Esperança
vendo a frota o bargantin
receitou-lhe h[~u]as fumaças

Foysse o Duque ja tam tarde
que brilhauam as vidraças
do bargantin, con os cabellos
da que he firme na mudança

Acompanhounos o Duque
the entrarmos pella barra,
que qu[~e] ganha todo o resto
nam repara nas entradas

Auistando terra sempre
viemos con festa tanta
que enganauamos a penna
no logro da esperança

Chegamos; ô quem tiuera
h[~u]a eloquencia tam rara
que relatâra esta dita
o que este gosto explicâra

Jesus, ja tomamos porto?
jesus; ja vemos a barra?
ja Portsmouth se uê tam perto?
ja pisamos a Bretanha?

Ja se acabou a pensam
de recear, as borrascas;
ja nos nam farâ o Norte
tam repetidas carrancas

Ja nam teremos biscoito
tam duro como huá ingrata
se bem remedio excellente
nas dilaçoens das jornadas

Ja nam teremos temperos
sem sal, sem gosto, sem graça
se bem hera do ençoço
remedio a vaca salgada

Ja nam ouuirey ringir
o Nauio; n[~e] as camas
andaram pellos beliches
de h[~u]a para a outra banda

Ja nam irey ao conues
diuertirme, con as tabulas
nem â noite, o sete estrello
ver se fica juncto â barca

Ja nam ouuirey de noite
as voses desentoadas
daquelles nossos ratinhos
amigos de roupa branca

Ja entrou a Nao real
com ajuda das fragatas,
que por aver pouco vento
se quis valer destas traças

Ja lançou ferro, e tambem
lança ferro toda a Armada
ja de terra, as fortalesas
se enchergam pellas fumaças

Ja chegaõ todos os botes
rodeando a Capitania
prouidos de galhardetes
e bandeiras arrastradas

Ja o bargantin do Duque
se chega para as escadas
da Nao Real, para ser
archiuo de luses tantas

Ja desse o sol de Lisboa
ja entra a lux da Bretanha
ja a bandeira Real
se abate da Capitania

Ja o bargantin aluôra
aquella sonôra arpa
que ade tocar alg[~u] dia
conçonancias, e naõ falças

Deu â uella e tam uelôx
cortou a liquida prata
que nam sabiam os olhos
se corria, ou se uoaua

Buscou a terra, e fes muito
porque quem se uê tam alta
so fas mençam do sublime
so do subido se paga

Porem nam pode chegar
talues por amor das aguas,
e destenperando as cordas
esperou alguás pausas

Chegou outro bargantin
mais pequeno, vox mudada
donde a prima da bellesa
quis desser mais requintada

Foi terceira h[~u] instromento
que nam tem segundo, e basta
que uisse ler de Cadeira
h[~u]a bellesa tam rara

Poucos compassos fiseram
os remeiros, quando a prancha
se pos em terra, e de h[~u] golpe
saltaram todos na praya

Adonde estauam os terços
que guarneciam a praça
gente bem paga do Rey
e da Raynha bem paga

Gente toda muy lusida
cortês, como bem criada,
deuotos, porque nenh[~u]
faltou do terço na salua

Hiamos todos diante
admirando cõ as gallas
Portuguesas, e o capricho
da naçam que a Deos mais ama

Depois dos terços seguiãsse
os Vreadores da Camara
se bem pareceo Cabido
por ter porteiro da maça

Entramos dentro em Palacio
que hera h[~u] Castello da praça
e apeouse da Carrocça
aquella diuina Pallas

Tam armada de bellesa
como de capricho armada
abrindo lhe a estribeira
quem no seruir se estribaua

Subio pella maõ do Duque
entrou na primeira salla
que inda teue h[~u] par de panos,
cõ estar tam bem armada

Muita fidalguia inglesa
muita pluma, muita gala
muita fita, muita ceda
muito ouro, muita prata

De fina tella uestidas
estauam todas as damas
cõ muitos signais no rostro
e cõ repiques na graça

Beyjarão todas a mam
âquella bella Diana
de quem; âs setas dos olhos
seruem coraçoens de aljaua

Entrou para descançar
de tantas penas passadas
de tantas glorias presentes
que tambem a dita cança

Nam lho permetio o pouo,
porque a gente aluoraçada
sem perder do Paço a Vista
perdia o paço em buscalla

Derâmnos bons aposentos
cõ camas tam regaladas
que o aliuio das pennas
se achou nas penas das camas

Os regalos heram muitos
a terra das muito fartas
a gente muito cortes
e muito lindas as casas

Por baixo muitos jardins
por sima muitas uarandas
estas muito uermelhinhas
aquellas menos coradas

O gouerno excellente
e dos domingos a guarda
muyto mayor que a do Rey
cõ ser tam grande Monarcha

Os catholicos ouuiam
missa, cõ deuaçam tanta
que puderam aprender
alguns dos da nossa Patria

Em Pallacio se desia
missa, Domingo e semana
e sobre a tarde, cantauam
tons, os musicos da Camara

Chegou de Londres El Rey
cuido, que â terça ou â quarta
para leuar para a quinta
quem requinta a mesma graça

Muito a taballe diante
muita trompeta bastarda
a cujo estrondo, atirou
toda a artelharia a praça

As Carroças, sem contia
e a Caualaria tanta
que sendo guarda do Rey
fasiam mil quatorsadas

Seguiamsse logo a estes
quatro porteiros da cana
que heram; por dados do Rey
quadernas afortunadas

Seguiamsse muy vistosos
os officiaes da Casa
botoens de Rosas â vista
na cor verde e encarnada

Tambem os seus Capellaens
vieram cõ negras gallas
galhardos a toda a ley
porem nam á ley Romana

Atras destes se seguiam
os seus soldados da guarda
no meyo a Real carroça
chea de olhos sem pestanas

H[~u]a tropa de Cauallos
Leuaua de retaguarda
que se armauam bem de peitos
por b[~e] guardar lhe as espaldas

Apeousse a Magestade
(digo o Rey da grã Bretanha)
cuja Magestade nunca
poderâ ser apeada

Salua lhe deram real
os terços, e toda a praça
e quem morria por vello,
por vello vivas lhe daua

Sobio a Pallacio, donde
vio aquella Estrella d'alua
emferma de tanta ausencia
nos braços da Esperança

Sem interpetre fiseram
as cortesias vsadas
que nam ha mister ter lingua
corpo que tem duas almas

Como tinha satisfeita,
aquella primeira causa
veyo dar a maõ a tantos
que o trasiam nas palmas

Foj correr as fortalesas
o que esforçado Monarcha
pois tam ferido de amor
nam quer largar inda as armas

Correu toda a Villa, e certo
que foj cousa muy notada
quando os Reis a todos dam
roubar elle tantas almas

Nam tem que ver o retrato
cõ o magestoso da cara
que se he sombra deste asombro
a lux sempre foj mais clara

Aqui fique a Musa agora
por quanto a lux se me apaga,
a penna vay sendo groça
a tinta vem sendo branca

Fique em Porstmout a thalia
que tambem do mar cançada
nececita que lhe demos
feria no fim da semana

Ella promete ao leitor
finos pinseis, cores claras
para pintar os Paises
de Porstmout, para a Bretanha

E em tanto que fica ausente
aceite essa doce patria
o desejo de seruilla
e a vontade de logralla


Finis laus Deo.



Notas da transcrição:
Por não existir nenhum caracter ascii correspondente às letras
"u com til" e "e com til", foram esses caracteres
substituidos pelas marcas [~u] e [~e] respectivamente.






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*** START: FULL LICENSE ***

THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE
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or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.


Section  2.  Information about the Mission of Project Gutenberg-tm

Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
electronic works in formats readable by the widest variety of computers
including obsolete, old, middle-aged and new computers.  It exists
because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
people in all walks of life.

Volunteers and financial support to provide volunteers with the
assistance they need, is critical to reaching Project Gutenberg-tm's
goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
remain freely available for generations to come.  In 2001, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
and the Foundation web page at http://www.pglaf.org.


Section 3.  Information about the Project Gutenberg Literary Archive
Foundation

The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
Revenue Service.  The Foundation's EIN or federal tax identification
number is 64-6221541.  Its 501(c)(3) letter is posted at
http://pglaf.org/fundraising.  Contributions to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
permitted by U.S. federal laws and your state's laws.

The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
throughout numerous locations.  Its business office is located at
809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
business@pglaf.org.  Email contact links and up to date contact
information can be found at the Foundation's web site and official
page at http://pglaf.org

For additional contact information:
     Dr. Gregory B. Newby
     Chief Executive and Director
     gbnewby@pglaf.org


Section 4.  Information about Donations to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation

Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
spread public support and donations to carry out its mission of
increasing the number of public domain and licensed works that can be
freely distributed in machine readable form accessible by the widest
array of equipment including outdated equipment.  Many small donations
($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
status with the IRS.

The Foundation is committed to complying with the laws regulating
charities and charitable donations in all 50 states of the United
States.  Compliance requirements are not uniform and it takes a
considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
with these requirements.  We do not solicit donations in locations
where we have not received written confirmation of compliance.  To
SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
particular state visit http://pglaf.org

While we cannot and do not solicit contributions from states where we
have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
against accepting unsolicited donations from donors in such states who
approach us with offers to donate.

International donations are gratefully accepted, but we cannot make
any statements concerning tax treatment of donations received from
outside the United States.  U.S. laws alone swamp our small staff.

Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
methods and addresses.  Donations are accepted in a number of other
ways including checks, online payments and credit card donations.
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works.

Professor Michael S. Hart is the originator of the Project Gutenberg-tm
concept of a library of electronic works that could be freely shared
with anyone.  For thirty years, he produced and distributed Project
Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.


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